O aumento no preço dos alimentos tem assustado muita gente e está mudando os hábitos dos consumidores em Rondonópolis. A alteração, que envolve também uma redução no volume de vendas do setor, está relacionada à escalada nos preços dos combustíveis e de outros fatores ligados à produção. Empresários do setor dizem que nunca viram nada igual e temem que a situação se prolongue por mais tempo.
O empresário Mauro Cabral dirige uma distribuidora de alimentos que atua a mais de 40 anos em Rondonópolis. Seus clientes são principalmente supermercados e verdurarias da região e também de Cuiabá e Várzea Grande. Ele disse que houve variação nos preços de praticamente todos os produtos, com destaque para itens como tomate, cenoura e batata.
Mauro diz que o aumento no preço dos combustíveis pesa bastante, mas não é o único fator. “Junto a isso tivemos problemas climáticos e o endividamento dos produtores. Eles estão produzindo menos e a qualidade do produto também caiu. Essa redução da oferta impulsiona a alta e chega num momento em que o consumidor também está com menos dinheiro no bolso. É uma equação difícil de fechar”.
O empresário destaca que o aumento no preço dos alimentos é um fenômeno mundial, que está relacionado à globalização. Conforme ele, não há previsão de mudança no curto prazo – já que existe uma expectativa de aumento no preço dos fertilizantes por causa da guerra na Ucrânia e, no plano interno, o ano eleitoral deve impedir mudanças mais profundas na política de preços.
“Esta é a maior crise que já enfrentamos, não temos referência de nada parecido no passado. Para mim é tudo novo, estamos precisando nos readaptar. Precisamos encontrar caminhos novos”, afirma.
No plano interno, Mauro Cabral sugere que as ações visando a redução no preço dos alimentos foquem principalmente os pequenos produtores.
“Precisamos trabalhar na recuperação do pequeno produtor para aumentar a produção. Eles são os maiores prejudicados por este problema de logística. Também têm dificuldades para conseguir mão de obra e crédito – seja por causa da burocracia, por já estarem negativados ou por temerem os risco de um financiamento”, explicou.
NOVOS HÁBITOS
O empresário Thiago Sperança, que é presidente da CDL e comanda uma das maiores redes de supermercados da região, também aponta fatores internos e externos para explicar a situação. Além dos fatores relacionados às condições de produção citados por Mauro Cabral, ele aponta a política de preços da Petrobrás, atrelada ao mercado internacional, como uma das causas do problema.
“Mesmo tendo 80% da produção de combustível interna a Petrobras acompanha preço do mercado internacional. Isso foi positivo porque acabou com aquela dívida acumulada pela estatal no período em que o governo segurava os preços. Mas, por outro lado, esta política de preços e a guerra na Ucrânia tem provocado altas nos combustíveis que afetam toda a cadeia produtiva”, explica.
A análise de Thiago Sperança é reforçada por uma pesquisa recente feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), mostrando que 54% dos brasileiros se dizem afetados pela crise dos combustíveis, 64% cortaram bens de consumo (especialmente materiais de construção e tv por assinatura) e 24% cortaram refeição fora de casa.
No âmbito interno Thiago cita também as enchentes que atingiram Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, e a seca no Paraná e Rio Grande do Sul – estados que são grandes produtores de alimentos. Conforme ele, a situação mudou o perfil de compras dos consumidores rondonopolitanos.
“No ramo alimentício estamos vendo o que sempre ocorre nas crises. As pessoas trocando carne vermelha por carne branca, cortando supérfluos (enlatadados), e mudando hábitos no consumo de itens de higiene e limpeza, trocando, por exemplo, a marca líder por outra com custo menor”, diz.
O dirigente disse ainda que o quadro é preocupante e não há previsão de mudança no cenário. Segundo ele muita coisa pode ser feita pelos governantes, mas é preciso que os cidadãos também se preparem melhor para enfrentar situações assim.
“Como representante do comércio nos preocupamos muito. Mas, independente de como seja feita a precificação dos combustíveis, a cultura interna dos brasileiros precisa mudar. O cidadão precisa ter controle financeiro em casa, conversar sobre investimentos. No exterior as pessoas são ensinadas desde criança sobre finanças, aplicações, investimentos e renda. Isso é necessário, porque as crises vão acontecer e, além de alguma reserva, precisamos ter conhecimento para entendê-las e decidir como se comportar”, concluiu.
Eduardo Ramos – Da Redação