Opreço do gás de cozinha em Rondonópolis é um dos mais altos do país. O botijão de 13 quilos é comercializado aqui por valores que podem chegar a R$ 150, bem acima da média nacional que segundo a Agência Nacional de Petróleo (ANP) é de R$ 113,48 – a maior registrada neste século.
Isso significa que aqui os trabalhadores que recebem o salário mínimo de R$ 1.212,00 comprometem cerca de 12,4% da renda mensal apenas para comprar o gás de cozinha, percentual bem superior aos 9,4% correspondentes à média da ANP.
A situação tem feito muita gente adotar novos hábitos e assusta os trabalhadores mais pobres. É o caso do pedreiro Valdo de Souza, que tem 37 anos e vive com a esposa e três filhos na periferia de Rondonópolis. “No ano passado vendi minha moto porque já não conseguia abastecer. Agora estou pensando em construir um fogão a lenha, pois está difícil comprar gás neste preço”, reclama
Valdo não tem carteira assinada e trabalha por empreita. Como o serviço está escasso, a renda média não passa dos mil reais por mês. Ele conta que a esposa tem adotado algumas medidas para economizar, mas como não tem freezer e a geladeira é pequena pouca coisa pode ser feita. Uma das saídas foi cortar a compra de carne, para completar o valor do gás.
“Em casa o botijão dura cerca de 30 dias e cada vez fica mais difícil. Nunca tinha visto o gás tão caro assim, o preço não para de subir e a nossa renda não acompanha. Eu só queria saber por que está esse absurdo”, disse ele.
A dúvida levantada por Valdo tem alimentado os debates políticos e econômicos. Há um entendimento geral de que a causa principal é a política adotada pela Petrobras, que atrela os preços internos ao dólar e às movimentações no mercado internacional. Mas não é só isso.
O empresário Wilson Spontani atua há oito anos como revendedor de gás em Rondonópolis e diz que é a primeira vez que vê o produto subir tanto. Ele é cético em relação à mudanças no curto prazo e avalia que a situação foi agravada também por fatores como a pandemia, a alta carga tributária e a concorrência desleal.
“A gente que trabalha legalizado, pagando certinho os impostos e direitos trabalhistas, tem uma despesa muito alta. Não sei o que significaria a mudança na política de preços, não sei até onde poderia reduzir”, diz.
Spontani lembra que a Petrobras é uma empresa mista e que a tentativa de controlar os preços gerou prejuízos grandes no passado. “Penso que o Brasil tem de mudar tudo, principalmente a política brasileira. Enquanto tivermos num país onde as pessoas só pensam no próprio bolso não resolverá. Precisa dar oportunidade para as pessoas, não miséria”, afirmou.
GUERRA E POLÍTICA
Os argumentos de Spontani são em grande parte compartilhados por Maria Vitória, uma profissional que está no mercado há 15 anos. Ela não tem dúvidas de que a principal causa dos aumentos é a política de preços da Petrobras. Mas afirma que a situação foi agravada pela guerra na Ucrânia e pelo aumento de outros custos, principalmente o frete.
“Antes tínhamos em média dois aumentos por ano, em janeiro e em setembro. Agora ficamos apreensivos o tempo todo, porque a gente dorme e no dia seguinte acordamos com o preço do gás já maior. Nunca tínhamos enfrentado algo assim”, afirma.
Assim como outros revendedores consultados pela reportagem, Maria Vitória diz que não houve ainda redução no volume de vendas, mas a margem de lucro é cada vez menor. Ela também reclama da atuação dos revendedores clandestinos e, principalmente, do uso político que tem sido feito da situação.
“Acho que politizaram o gás, como uma forma de chamar a atenção por ser um produto que todo mundo usa. Alguns partidos usam isso para fazer críticas, outros dizem que o Governo não tem culpa e quase todos tentam jogar a culpa nos revendedores. Mas nós não temos muito que fazer. No fundo acho que o brasileiro precisa saber lutar pelo que quer. Pra começar tem que mexer na Petrobras, olha só o tamanho do lucro que eles tiveram”, destaca ela citando os R$ 106,6 bilhões de lucro líquido obtido pela empresa no ano passado.
Da Redação – Eduardo Ramos